quinta-feira, 26 de julho de 2012

“Na Estrada” (2012)


Há casos em que é bom não traçar um paralelo entre uma coisa e outra, e no caso de Na Estrada, o novo filme de Walter Salles, tentar fazer isso vai bem.

Claro que é praticamente impossível não comparar sua qualidade com a de On The Road, livro de Jack Kerouac que deu origem ao filme, mas digo isso porque o longa-metragem tem seus méritos por si só, independente da fidelidade de seu roteiro com o romance. Afinal, depois de tantas tentativas desastrosas, até que enfim chega aos cinemas uma adaptação da mais celebrada obra da Geração Beat.

A sinopse é a seguinte: em Nova Iorque vive Sal Paradise (Sam Riley), que é um aspirante a escritor que acabara de perder o pai. Ao conhecer Dean Moriarty (Garrett Hedlund), Sal radicaliza e, por influência do amigo, passa a viver intensamente em busca da liberdade em diversos sentidos: sexo, drogas e literatura. Logo Sal e Dean se tornam grandes amigos, dividindo a parceria com a jovem Marylou (Kristen Stewart), que é amante de Dean. Os três viajam pelas estradas do interior do país procurando fugir de regras e da monotonia de uma vida ordinária.

Sam Riley, que obteve destaque interpretando Ian Curtis em Control, conseguiu criar um Paradise convincente, tanto nos trejeitos do personagem como na qualidade da interpretação. Já o Dean Moriarty de Garrett Hedlund é ainda mais contundente, e, para quem leu On The Road, encontra no filme o herói do romance com seu jeito errático e frenético realçado. Kristen Stewart – que primeiramente me soou apenas como uma estratégia para atrair um público maior às bilheterias – esteve bem interpretando Marylou e provou que é capaz de fazer papéis mais densos.

Há também alguns personagens importantes que aparecem menos, mas que devem ser lembrados. Kristen Dunst, que faz a esposa de Dean, Camille, participa mas não surpreende. O mesmo se dá com Alice Braga (Terry). Já o Old Bull Lee interpretado por Viggo Mortensen é seguramente um dos personagens mais seguros e bem construídos, enquanto Tom Sturridge faz um Carlo Marx exagerado e não muito bom.

O filme não decepciona, mas também não muda vidas. Ou melhor, decepciona aquele que espera um On The Road visual contendo todos seus pormenores, mesmo sabendo que isso tornaria o longa intolerável.

Pode-se dizer que tanto a trilha sonora quanto a fotografia são um caso à parte, o forte do longa-metragem está seguramente nessas categorias. Na Estrada é permeado de velhos blues e jazz, e a cada dois minutos apresenta uma bela paisagem dos EUA ou México. Por outro lado, há alguns detalhes que mereciam mais cuidado, principalmente o figurino, o qual é muito ruim e não nos remete muito bem àquela época em alguns momentos.

Por fim, se você for ao cinema achando que encontrará um filme tão frenético quanto o livro, voltará para casa um pouco decepcionado. Se você que nunca leu On The Road for ao cinema procurando entender o que tanto falam da obra literária, provavelmente voltará para casa dividido entre começar a ler o livro imediatamente ou passar bem longe dele. Agora, se você for ao cinema procurando apenas por um bom filme, vazio de todas as expectativas acerca desse mito da Geração Beat, voltará satisfeito e quem sabe querendo assistir mais de uma vez.
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