Há pouco tempo, muito se ouviu a respeito de uma vertente do Rock chamada Power Pop. O que nem todo mundo sabe é que este estilo já é bastante antigo, um tanto quanto obscuro, mas altamente influente.
De certa forma, seu significado acabou se perdendo no tempo. O verdadeiro Power Pop nada tem a ver com o chamado Power Pop que dizem que existe hoje. Por mera coincidência, utiliza-se o termo pra definir o novo ‘Rock Colorido’ que bandas como Restart e Cine andam fazendo, porém o estilo corresponde a bandas como Big Star (foto acima), The Raspberries, Flamin’ Groovies (foto abaixo) e Badfinger, expoentes da década de 1970 que mais tarde influenciariam bandas e cantores importantes como R.E.M, Teenage Fanclub (também Power Pop), Elliott Smith, Jeff Buckley, e The Replacements.
Início
Sabe-se que o termo foi utilizado pela primeira vez em 1967 por Pete Townshend, guitarrista e compositor do The Who, durante uma entrevista quando tentava definir o som que sua banda fazia: “Power Pop é o que nós tocamos, o que The Small Faces costuma tocar e é também o tipo de Pop que The Beach Boys tocou em seus dias de 'Fun, Fun, Fun', o qual eu prefiro”. Somente alguns anos depois a sonoridade do estilo seria definitivamente estabelecida.
O Power Pop pode ser caracterizado como um revival dos anos 1960 com um pouco mais de potência. Praticamente todas as bandas do estilo têm como influência as melodias e arranjos de algumas bandas mais pesadas da British Invasion dos anos 1960 (The Kinks e The Who) e também o Folk Rock americano (The Byrds e The Lovin’ Spoonful). Ao somar alguns riffs de guitarra grudentos, como “Day Tripper”, dos Beatles e “Satisfaction”, dos Rolling Stones, você tem uma banda de Power Pop.
Bandas seminais
A primeira banda a ter alguma visibilidade com esta proposta foi o Badfinger. Canções de fácil audição repletas de harmonias vocais com um toque Beatle e de guitarras levemente distorcidas. Curiosamente, o grupo inglês contou com uma grande colaboração dos Beatles. Seu primeiro álbum, “Magic Christian Music”, de 1970, foi lançado pela Apple, selo dos Beatles, e o maior sucesso do álbum, “Come and Get It” – quarto lugar na lista de vendagem da Grã-Bretanha – foi composto por Paul McCartney. Além disso, o Badfinger participou de gravações de álbuns de George Harrison (“All Things Must Pass”, 1971), Ringo Starr (“Ringo”, 1971) e também John Lennon (“Imagine”, 1971). O Badfinger é talvez a banda mais famosa do Power Pop, e muito de seu sucesso se dá devido à música “No Matter What”, um clássico do Rock que de vez em quando toca no rádio. Chegaram a ser a banda genuinamente britânica a ter a melhor vendagem desde os Beatles.
Já a banda mais influente e que melhor sintetiza o estilo é Big Star. Surgida em Memphis (EUA), em 1970, o grupo liderado pelos compositores Alex Chilton – então ex-membro do The Box Tops – e Chris Bell fazia um som tão acessível quanto o Badfinger, mas seu selo, o Ardent Records, por ser especializado em música Soul e R&B, encontrava dificuldades ao divulgá-los, então o Big Star não fez o menor sucesso nos anos 1970. Seu primeiro álbum, “#1 Record”, de 1972, é uma pérola pouco conhecida da história do Rock, assim como seu sucessor, “Radio City”, de 1974 e já sem Chris Bell na banda, que acabou falecendo em um acidente de carro em dezembro de 1978. Este último contém o hino que define o Power Pop: “September Gurls”. Em 1975 o Big Star lançou outro álbum, desta vez mais experimental, o “3rd”, e encerrou suas atividades. Anos depois surgiram bandas como R.E.M, The Posies e Teenage Fanclub que se diziam fãs incondicionais do Big Star, o que colaborou ainda mais para a banda atingir status de lenda cult. Durante um curto período dos anos 2000, a banda retornou aos palcos e em 2005 lançou o despercebido “In Space”, e em seguida o grupo definitivamente se dissolveu. Paralelamente ao Big Star, tanto Chris Bell quanto Alex Chilton – falecido em março de 2010 – possuem carreiras solo bem aclamadas. Recentemente, foi lançado um documentário sobre a banda, intitulado “Nothing Can Hurt Me”.
Outro expoente que define bem o estilo é o grupo The Raspberries, que possui um repertório de canções consistentes, algumas bastante adocicadas, e que nos agrada na primeira audição. Também de 1970, a banda norte-americana conseguiu um relativo sucesso no início da carreira, principalmente com a música “Go All The Way”, que alcançou o quinto lugar na Billboard Hot 100, em 1972. Nas canções é possível reconhecer influências de algumas bandas britânicas antigas como The Hollies e Gerry & The Pacemakers. The Raspberries manteve uma carreira de relativo êxito até seu fim, em 1975. Seus quatro álbuns de estúdio foram bem aclamados pela crítica da época, principalmente o segundo, “Fresh”, de 1972, tido como um clássico do Power Pop. Pessoas como Bruce Springsteen, Tom Petty, Axl Rose e Paul Stanley já citaram a banda como uma influência.
Continuidade
Já nos anos 1980 e 1990, a influência exercida pelo Power Pop pode ser percebida em bandas que faziam outro estilo de Rock (vide The Romantics, The Undertones, The Replacements e o já citado R.E.M.) e também era possível revisitá-lo em novas bandas do segmento, como o The Knack, Teenage Fanclub e Cheap Trick.
O que pode ser notado em toda a trajetória do estilo é que as bandas mais famosas – com exceção do Big Star – alcançaram um sucesso isolado com algumas canções, fazendo com que suas melodias acabassem se tornando mais famosas do que os próprios grupos em si. Jamais chegaram ao patamar das grandes bandas, o que fez com que a nomeação Power Pop acabasse perdendo um significado mais abrangente. Mas para quem de fato conhece, o Power Pop é uma categoria prolífera e digna do mais alto escalão do Rock ‘n’ Roll.
Aí está uma seleção de dez músicas para entender melhor o som do Power Pop:
1- Big Star - “September Gurls”
2- The Raspberries - “Tonight”
3- Badfinger - “No Matter What”
4- The Knack - “My Sharona”
5- Cheap Trick - “Surrender”
6- Teenage Fanclub - “Star Sign”
7- Todd Rundgren - “Couldn’t I Just Tell You”
8- Flamin’ Groovies - “Shake Some Action”
9- Chris Bell - “I Am The Cosmos”
10- Off Broadway - “Stay in Time”
Menção Honrosa: Big Star - “Back Of A Car”
Por: Victor José
Eu ADORO My Sharona. Eu a ouvi uma vez no rádio e me apaixonei. Fiquei ouvindo as músicas seguintes até o narrador voltar e dizer de quem era e qual era o nome da música... quando o momento chegou, minha mãe falou comigo e eu me distraí. Fui descobrir só um ano depois quando um peruano me contou, pq por um PUTA acaso tocou no rádio do restaurante que a gente trabalhava.
ResponderExcluirSe todo power pop for assim, tá aí um estilo q eu vou curtir, viu?
Nossa, o cara dessa banda (Badfinger) é tipo o irmão perdido do Paul McCartney! Ou só eu que achei ele parecido...
ResponderExcluirBem legal o texto, muito esclarecedor!
Gostei! Não conhecia power pop pelo nome, apenas o estilo e quem sabe algumas músicas. O caso Restart me faz lembrar bem o funk nos dias de hoje. Para quem sabe, o funk não quando foi criado não tinha NADA a ver com o que é hoje. Hoje tem gente chamando qualquer coisa de rock, tudo viru rock, talvez porque com o tempo, virou belo ser rebelde, ou anti-regras. Pensei nisso também ao ler o texto. Parabéns! :D
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